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Santa Páscoa: quaresma de reflexões

Atualizado: 31 de mai. de 2023


Hoje, marcados pelo austero símbolo das Cinzas, entramos no Tempo da Quaresma, iniciando um itinerário espiritual que nos prepara para celebrar dignamente os mistérios pascais. As cinzas benzidas, impostas sobre a nossa cabeça, são um sinal que nos recorda a nossa condição de criaturas, que nos convida à penitência e a intensificar o compromisso de conversão para seguir cada vez mais o Senhor.


A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).


A Quaresma é um caminho, é acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de paixão, morte e ressurreição; recorda-nos que a vida cristã é um caminho a percorrer, e que consiste não tanto numa lei a observar, quanto na própria pessoa de Cristo a encontrar, receber e seguir. Com efeito, Jesus nos diz: "Se alguém quiser vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lc 9, 23). Ou seja, nos diz que para chegar com Ele à luz e à alegria da ressurreição, à vitória da vida, do amor e do bem, também nós temos que tomar a cruz todos os dias, como nos exorta uma bonita página da Imitação de Cristo: "Portanto, toma a tua cruz e segue Jesus; assim entrarás na vida eterna. Foste precedido por Ele mesmo, que carregou a sua cruz (cf. Jo 19, 17) e morreu por ti, a fim de que também tu carregasses a tua cruz e desejasses, também tu, ser crucificado. Com efeito, se morreres com Ele, viverás com Ele e como Ele. Se lhe fores companheiro no sofrimento, ser-lhe-ás companheiro inclusive na glória» (l. 2, c. 12, n.). Há uma palavra-chave que é citada com frequência na Liturgia para indicar isto: a palavra hoje; e ela deve ser entendida em sentido originário e concreto, não metafórico. Hoje Deus revela a sua lei e hoje é nos dado escolher entre o bem e o mal, entre a vida e a morte (cf. Dt 30, 19); hoje "o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1, 15); hoje Cristo morreu no Calvário e ressuscitou dos mortos; subiu ao céu e está sentado à direita do Pai; hoje é nos conferido o Espírito Santo; hoje é um tempo favorável. Então, participar na Liturgia significa imergir a própria vida no mistério de Cristo, na sua presença permanente, percorrer um caminho em que entramos na sua morte e ressurreição para receber a vida.


Esse hoje, “hodie”, é muito familiar a N. P. S. Bento como lemos no Prólogo da Santa Regra: “E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: “hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações”(9)... Correi enquanto tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morte não vos envolvam” (13).

Este itinerário que somos convidados a percorrer na Quaresma é caracterizado, na tradição da Igreja, por algumas práticas: o jejum, a esmola e a oração. O jejum significa a abstinência do alimento, mas abrange outras formas de privação para uma vida mais sóbria. Porém, tudo isto ainda não é a realidade completa do jejum: é o sinal externo de uma realidade interior, do nosso compromisso, com a ajuda de Deus, de nos abstermos do mal e de vivermos do Evangelho. Não jejua verdadeiramente quem não sabe alimentar-se da Palavra de Deus.


Madre Abadessa Martha Lucia.


***Madre Martha Lúcia Ribeiro Teixeira,osb é a atual Abadessa do Mosteiro Nossa Senhora da Paz e está no mosteiro há 39 anos, sendo 23 como abadessa. Suas antecessoras foram Me. Dorotéia Rondon Amarante, osb e Me. Regina Jardim Paixão,osb, ambas do grupo das fundadoras do Mosteiro. A Comunidade conta com 27 membros. “O Abade faz as vezes do Cristo, pois é chamado pelo mesmo cognome que Este, no dizer do Apóstolo: ‘Recebestes o espírito de adoção de filhos, no qual clamamos: ABBA, Pai’.” (Regra de São Bento 2,2).


O Mosteiro Nossa Senhora da Paz pertence à Congregação Beneditina do Brasil e foi fundado em 21 de julho de 1974, como priorado dependente da Abadia de Santa Maria, em São Paulo. Em 23 de maio de 1983, a comunidade alcançou o número mínimo de 12 monjas, necessário para se tornar uma abadia independente. Na época de sua fundação, o mosteiro pertencia à Arquidiocese de São Paulo. Com a criação da Diocese de Campo Limpo, em 1989, a abadia passou a integrar a nova circunscrição.


As fundadoras desse mosteiro foram as Madres Dorotéia Rondon Amarante (1916-2015) e Regina Jardim Paixão (1928-2020), acompanhadas das Irmãs Emerenciana Rabello Jardim (1910-1997), Maria Cruz (1930-2020), Paulina de Carvalho Gomes (1916- 2007), Mônica Castanheira (1926-2018) e Maria Beatriz Rondon Amarante (1918-2016).


Essas religiosas assumiram o desafio de instituir uma nova comunidade monástica inspirada nas disposições do Concílio Vaticano II, preservando a essência da Regra Beneditina, de mais de 15 séculos, adaptada à renovação litúrgica e pastoral. Nesse sentido, desde a sua fundação, essa comunidade reza o ofício litúrgico na língua vernácula, isto é, em português, e não em latim, como é mantido por muitos dos mosteiros fundados antes do Concílio.

 


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