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Capítulo 6 – A vida no Brasil


Incapazes de superar o clima adverso para os negócios na Argentina, nossos pais decidiram deixar Buenos Aires imediatamente e levaram Molia e os dois bebês mais novos para o Brasil. As outras crianças foram, então, colocadas em internatos. Em 1952, a Panair transportou oito crianças chinesas de Buenos Aires ao Rio e, em seguida, do Rio a São Paulo. Nossos pais vieram buscar-nos no Aeroporto de Congonhas. Depois de dois anos de separação, fomos reunidos novamente. A maioria estava com náuseas, mas estávamos muito felizes!


Depois de deixar Hong Kong, nossa Mãe deu à luz mais dois filhos, Jim e Paul, no Brasil. Isto completou a Família Sieh de treze filhos, com seis filhas (Vivian, Molia, Ann, Bernadette, Theresa e Cecília ) e sete filhos (Tom, John, Joe, João Bosco, Luiz, Jim e Paul).



Estamos juntos no Brasil pela primeira vez!

O objetivo de nossa Mãe sempre foi o de promover e estimular os valores espirituais em todos os seus filhos, supervisionar a prática espiritual da família, além de consolidar as relações harmoniosas da família Sieh, em expansão no Brasil e nos Estados Unidos. Para a nossa Mãe, o mundo fora da China era um mundo de ambiguidades. Nele, ela era segura para praticar sua devoção a Cristo e à Igreja, mas era também um mundo traiçoeiro, que podia desviar muitas almas de sua vocação universal à santidade. Sua rotina incluía a Missa diária, o mercado local para a compra de frutas e verduras frescas e, finalmente, a cozinha para preparar as refeições para a família e os funcionários. Ela ensinou todas as empregadas domésticas a cozinhar, e logo percebia e incentivava o desenvolvimento de seus talentos especiais e dons natos. Interessante observar que fez tudo isso sem nunca aprender a falar português.




Um primeiro retrato formal da Família Sieh completo com 13 crianças. Os dois bebês, um de cada lado da Mãe, nasceram no Brasil. O 13º bebê foi chamado Paulo, em homenagem a São Paulo, e ele quebrou o empate de seis meninos e seis meninas na família Sieh.


Uma foto da comunidade das Irmãs Felicianas na nossa casa, no Pacaembu. Elas eram Irmãs americanas da Província de Buffalo. Eram professoras de todas, menos quatro, das crianças Sieh na Chapel School de N. Sra. da Conceição Imaculada. Com elas e com os Padres Oblatos de Maria Imaculada, a família compartilhou muito apoio, admiração e amizade duradoura.


A família Sieh se fortalecia de duas fontes: a comida e a fé. Comida chinesa e fé católica. Comer e rezar. Nossa Mãe continuou a organizar e liderar grupos de mulheres para a formação espiritual delas, como nos primeiros dias na China. Seu ministério era o de visitar seus amigos enfermos e moribundos. Ao tomar conhecimento da existência de alguma pessoa em estado terminal, ela se aprontava imediatamente para visitar o paciente, levando sempre seu terço e a água milagrosa de Lourdes.




Depois de deixar a China, por causa das dificuldades que a Mãe teve com a mudança social e a língua portuguesa, ela contava cada vez mais com as Irmãs religiosas para a formação espiritual de seus filhos. A foto aqui mostra uma cena de Luiz (o quarto da esquerda, atrás) a espreitar por cima do ombro do Cardeal Carlos Vasconcelos Mota, Arcebispo de Arquidiocese de São Paulo, que presidia a cerimônia de Primeira Eucaristia, organizada pela Chapel School.


Ela nos lembrou da misericórdia especial de Deus para com os moribundos. Quando ainda uma jovem mãe na China, ela rezava pela cura de nosso avô do vício do ópio e por sua conversão à fé Católica. Mas ele sempre resistiu. Então, instantes antes dele morrer, ela testemunhou seu arrependimento milagroso, quando ele fez sinal para ela trazer o crucifixo. Poder ministrar-lhe tanto o sacramento do Batismo e as orações finais para uma morte feliz foi uma das maiores consolações da sua vida.



Em 1969, a família comprou um sítio em Sumaré, para estar mais perto das indústrias em Amparo e Campinas. Lá passamos a maior parte do tempo de lazer nos finais de semana. Aqui, a imagem mostra as três gerações reunidas para a Eucaristia presidida pelo Padre Harold Rahm, SJ


O propósito de nosso Pai sempre era o de dirigir um negócio rentável e educar todos os seus filhos nos Estados Unidos. Seu plano previa que os meninos voltassem ao Brasil após a formatura, para ajudá-lo com a empresa. E que cada uma das meninas encontrasse um “marido digno” e o seguisse sendo uma esposa virtuosa e companheira de vida.




Em 1965, a família Sieh e seus funcionários foram a Aparecida para visitar o Santuário de Nossa Senhora e o amigo, Cardeal Mota. Esta foto foi tirada em frente ao Santuário velho. Ainda não se podia prever que o Santuário de N. Sa. Aparecida iria crescer e chegar a ser a Basílica gloriosa que é hoje, e que a família seria chamada para participar na construção da Capela do Batismo e na reforma da Capela da Ressurreição, onde o Cardeal Mota agora descansa na Paz Eterna



Quanto aos meninos, que foram para universidades norte-americanas, todos, exceto um, voltaram com suas esposas para assumir funções nas empresas da família que prosperavam no Brasil. Todas as meninas se casaram, com exceção da Molia, que seguiu a vocação religiosa após o ensino médio e ingressou na Congregação das Irmãs dos Santos Nomes. Nenhuma das filhas voltou a se estabelecer no Brasil, exceto Vivian e seu marido Jim. Eles, no entanto, retornaram para os Estados Unidos quando os filhos atingiram a idade para entrar na faculdade.



O Pe. Chu e um grupo de familiares e amigos num retiro em Siloé, o Mosteiro S. Bento, Vinhedo, SP. Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, oferecidos em chinês. Um acontecimento inédito, que se realizou graças à persistência da Mãe e à generosidade do Pe. Chu.



Rua Itápolis 267, Pacaembu, SP. Em 1955, a família mudou-se para a primeira e única residência em que todas as 13 crianças compartilharam, em um momento ou outro, com os nossos pais e avós. A casa permanece intacta como era até hoje. A família foi informada de que, em breve, essa propriedade será transformada em parte da Estação de Metrô que servirá à área do Pacaembu e Higienópolis.



Reunidos em frente da ‘Chapel School’, um momento importante registrado em 1956, quando todas as crianças estavam na escola. Os mais velhos estavam indo para os EUA para colégios e faculdades. As do meio iam para o ensino médio, e as mais novas para o jardim de infância e o pré.

A preocupação de nosso Pai com a educação dos seus filhos era, em primeiro lugar, uma questão pessoal pois, lamentavelmente, foi-lhe negada a oportunidade de concluir o segundo grau. Além disso, como imigrante em uma terra estrangeira, ele sabia que a luta para sobreviver dependeria do êxito da educação de seus filhos. Fizeram-se sacrifícios enormes para enviar cada filho às melhores escolas possíveis. Um exemplo disso foi a demora em comprar uma residência para a família, o que ocorreu só depois que Tom e Vivian se graduaram no curso superior.




As empresas da família




Em 1959, o Pai com os funcionários administrativos e seu primogênito, Thomas, em pé (3º da direita).

A empresa de nosso Pai no Brasil de fato cresceu substancialmente nos anos seguintes ao retorno dos seus filhos ao Brasil, depois de terem concluído os seus estudos nos Estados Unidos. De têxteis, a empresa expandiu seus negócios em novos segmentos , como a agro-indústria, a indústria alimentícia, e eventualmente, também, a fabricação de fibras químicas e outros produtos.





O Pai com o Governador Ademar de Barros em 1953, ao iniciar sua carreira industrial no Brasil.

No momento em que nosso Pai morreu, em 2004, aos 94 anos de idade, dois filhos, Luiz e Paulo, continuaram na empresa. Dessa forma, honraram a visão do pai, de que as empresas familiares iriam terminar com ele e seus filhos. Ele acreditava que seus netos iriam ser mais bem-sucedidos por conta própria, com melhores perspectivas e empreendimentos mais promissores, em uma economia mundial regida pelas regras da globalização. Após a sua morte, ele legou todas as suas propriedades e bens para a nossa Mãe.













Peregrinações para Roma e os Santuários Marianos



João Paulo II foi o último Papa que nossos pais conheceram pessoalmente. Nosso Pai esperava muito retornar à China, para participar da nova evangelização do Extremo Oriente. Ele achava o Papa muito entusiasmado e cativante. Os dois, por terem uma experiência semelhante com o comunismo, partilharam um diálogo sobre essa experiência e suas preocupações com o futuro do Cristianismo na China.



Meus pais mantiveram seu longo relacionamento com os salesianos. Aqui se mostra as visitas feitas ao Reitor Major e Superior Geral das Irmãs em Roma.




O Pe. Chu, SJ, com nossos pais

Além de estar com a sua família, os nossos pais tinham poucos prazeres. As viagens limitavam-se a visitar a família nos Estados Unidos e à peregrinações a Roma e aos Santuários Marianos de Fátima e Lourdes. Um de seus desejos persistentes era o de levar de volta a fé missionária para a China. Com este objetivo em mente, eles tiveram audiências com o Papa João Paulo II, em 1981, e um encontro muito emocionante com o Superior Geral dos Jesuítas, Pe. Pedro Arrupe, que lhes disse: “Sr. e Sra. Sieh, a estrada de volta para a China parece impossível, mas temos de encontrar um jeito... vocês não acham?”. Na manhã seguinte, o Pe. Arrupe celebrou a Eucaristia com eles na capela particular de São Francisco Xavier, em homenagem ao santo que morreu em uma praia olhando para a rota que conduzia em direção à China. Por que nossos pais insistiam em ir aos Santuários Marianos com tanta frequência?



A reunião com Pe. Pedro Arrupe, SJ, reacendeu nos nossos pais a chama de desejo para um Cristinianismo que servisse de ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre um passado valioso e um futuro promissor. “Sr. e Sra. Sieh, o caminho de volta para a China parece impossível, mas precisamos encontrar um jeito... vocês não acham?”



Porque eles queriam orar e suplicar à nossa Mãe Santíssima um favor especial. Qual milagre estavam pedindo? Muitas vezes nos perguntamos. Em um certo momento, nosso Pai revelou seu segredo: ‘Eu tenho três filhas ainda por casar. Sinto-me na obrigação de pedir à nossa Mãe Santíssima para que sejam três meninos chineses e católicos muito especiais!’.


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